1917

Quando Sam Mendes ganhou o Globo de Ouro de melhor diretor por 1917, poucos entenderam o motivo, uma vez que o filme nem tinha estreado. Pois bem, o filme estreou no Brasil na última sexta-feira e agora podemos afirmar: ele mereceu cada grama daquele prêmio.

Em 1917  Sam Mendes nos traz um filme quase perfeito do ponto de vista técnico, e apesar da história não ser a mais espetacular, o filme transporta o espectador para dentro do filme de tal forma, que você se sente o "terceiro" membro da comitiva junto com os cabos Blake e Lance, vivenciando o lado "nu e cru" da guerra, e entendendo que ela não é poética como alguns filmes mostram, mas algo podre onde seres humanos (e até animais) perdem suas vidas muitas vezes por "nada".

A história se passa durante a Primeira Guerra Mundial, na França, onde os protagonistas Blake (Dean-Charles Chapman) e Lance (George MacKay) recebem a missão de levar uma mensagem urgente ao General Mackenzie (Benedict Cumberbatch) em Croisilles Wood (uma caminhada estimada, no filme, de 8h). O filme é levemente inspirado em fatos reais, a partir de uma história que o avô do diretor lhe contou na infância, e em cima disso ele criou o roteiro do filme (o famoso "eu aumento, mas não invento").

O grande diferencial do filme é realmente a forma como foi filmado. Sam Mendes optou por fazer um uso massivo de planos-sequência (tomadas sem corte), e é isso que permitiu ao filme "transportar" o espectador para dentro da história. Logo no início, a primeira tomada, que possui quase 7 minutos (sem cortes), já dita o ritmo do filme, que segue assim até o final, intercalando essas tomadas de forma sutil... como, por exemplo, quando a câmera passa por uma árvore ou por uma parede. Ao fazer uso desta técnica, a história parece acontecer em tempo real (Jack Bauer ficaria com inveja), tornando o filme extremamente imersivo. Essa sensação de tempo real só é quebrada em uma cena específica, colocada pelo diretor de forma proposital para que o filme desse um pequeno salto temporal (mudando o 'dia' para 'noite'), mas de resto... a sensação é que você está lá na trincheira vivenciando cada cena.

Outro ponto que não pode passar em branco é a belíssima fotografia e trilha sonora do filme. Roger Deakins que já trabalhou com Sam Mendes em Skyfall  como diretor de fotografia, fez um trabalho de altíssima qualidade em 1917. O filme faz pouquíssimo uso de fundo verde, trazendo paisagens reais, ora belas... ora destruídas, um contraste que mostra os efeitos destrutivos da guerra em nosso mundo. Arrisco dizer que o Oscar de Melhor Fotografia ficará ou com 1917  ou com Coringa. Mantendo o padrão de qualidade do filme, o compositor Thomas Newman conduz uma trilha sonora impecável. Cada música se encaixa com perfeição nas cenas, em alguns momentos suave... em alguns momentos rápida, tensa, colaborando para a imersão do espectador.

1917  é um filme que vai agradar até quem não gosta do gênero, pois não é um filme sobre a guerra em si (ainda que existe uma crítica clara à ela), mas é um filme sobre perseverança, sobre resistência, sobre superar os obstáculos e cumprir sua missão.

É difícil dizer qual filme levará o Oscar 2020, mas se depender da nossa torcida, 1917  já é campeão.


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