É evidente que comparações acontecerão por todos os lados, pelas crianças de hoje que já assistiram ao desenho (e que provavelmente acompanham a série animada A Guarda do Leão), pelas crianças de ontem (ou melhor, os adultos de hoje) que vão assistir com a expectativa lá em cima, e pelos críticos em geral. Essas comparações pesam bastante na experiência pois o filme é realmente uma "cópia-carbono" da animação original, só que com gráficos ultra realistas. Cenários, diálogos, tudo muito igual ao original... o que é bom e ruim ao mesmo tempo.
Jon Favreau (para quem não lembra, ele atua como o motorista de Tony Stark, Happy) e sua equipe de efeitos visuais fizeram um trabalho primoroso e extremamente detalhista no que tange à transpor o desenho em live-action. O visual impressiona demais, o nível de realismo em CGI subiu um degrau após este O Rei Leão (aliás, depois deste filme, não consigo aceitar menos que este nível de qualidade em Avatar 2). Favreau peca, porém, em não acrescentar nenhum fato novo no filme, o que gera uma estranha sensação de estar assistindo à uma "reprise" e não um lançamento (ao menos para quem já assistiu a animação original), sensação esta que não existiu em Aladdin. Mas um aviso, apesar do filme passar essa sensação de "reprise", é impossível não sentir um frio na espinha na cena de Mufasa vs Scar durante a passagem da manada (pois você já sabe o que vai acontecer), o silencio na sala foi geral nesta cena... e sim, ela tem a mesma carga emocional da animação.
Existe um "porém" no nível de realismo do filme (bem... dois na verdade). Como Favreau optou por fazer um filme foto-realista, os personagens praticamente não possuem expressão facial como havia no desenho, então as emoções dos personagens são retratadas quase que 100% através da voz de seus dubladores (o que pode parecer meio artificial em alguns momentos). Outro ponto sobre o nível de realismo, é que em algumas cenas (principalmente naquelas que não possuem falas) você parece estar assistindo a um documentário do Animal Planet, e isto pode tirar um pouco sua atenção do filme (sabe quando você está conversando com alguém e sem perceber deu uma divagada? Pois é...).
A Disney, desde Enrolados, está com uma mania chata de escalar artistas (atores e músicos) para dublar em seus filmes (quem ainda tem trauma por ouvir a voz de Luciano Huck como José levanta a mão), e ela repete a fórmula em O Rei Leão. Ao mesmo tempo em que acerta algumas vozes (Mufasa e Timão por exemplo ficaram perfeitas), erra e erra feio na escolha de Ícaro Silva como Simba e Iza como Nala. Apesar da dublagem de Ícaro ter melhorado com o passar do filme, seu início foi realmente doloroso (aos ouvidos mesmo) quando cantou Hakuna Matata. Já Iza dublou com um sotaque carioca extremamente forte, que está longe de combinar com a personagem. Vale dizer que os dubladores de Simba (Garcia Junior na animação original, e Guilherme Briggs atualmente em A Guarda do Leão) estão "vivinhos da silva" e poderiam tranquilamente emprestar suas vozes ao personagem. A Disney insiste em não utilizar dubladores profissionais, e isto atrapalha bastante no resultado final do filme.
Falando de remakes live-action da Disney, é interessante comentar que apesar de Aladdin ser, de modo geral, superior a O Rei Leão, ele perde (com larga vantagem) no que diz respeito ao vilão. Scar é um vilão infinitamente melhor que Jafar, maquiavélico e manipulador, você torce pela sua queda do início ao fim do filme.
O Rei Leão é um bom filme e possui a mesma carga emocional do original, porém sem o mesmo brilho. Aquilo que o torna forte (o foto realismo da animação) é aquilo que o torna fraco também, por mais belo que seja o resultado visual, a sensação é que o desenho (que possuía mais cor e mais expressão) ainda estará na frente em termos de preferência do público.
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